ESPERANDO GODOT
Esperando Godot
Uma performance Art realizada pelos alunos do curso de Licenciatura em Artes Cênicas da UVV para a disciplina de Direção I ministrada pelas professoras Rejane Arruda e Lara Couto.
A atriz performer Rafaela Conceição ficava sentada em uma mesa de jantar esperando por companhia, no meio de um ponto de ônibus... Olhares curiosos, comentários diversos... Tempo restrito... Difícil acreditar em um jantar oferecido de graça, tão fácil, acessível,... Perturbador comer com um estranho? Em um ponto de ônibus? No meio da Rua?
A performance trouxe aprendizados além do esperado de um trabalho artístico. Começamos com o atraso do transporte e durante a espera começamos a perceber pequenas "coisinhas" faltando. Ao chegar o transporte nos dirigimos para o Terminal de Vila Velha, fato que nos trouxe decepção... Não poderíamos realizar o trabalho no recinto sem prévia autorização. Foi uma comoção geral... então eu sugeri que nós fôssemos para a Praça Duque de Caxias, perto dali.
Conversando com a Rejane, falamos sobre imprevistos que acontecem e improvisos aos quais estamos suscetíveis. Nos encontramos no paradoxo da performance, Deixar que o primeiro problema nos atrapalhasse seria oposto ao que construímos enquanto "sugestamos" estar procurando soluções rápidas. A performance não tem um fim definido, mesmo que tenhamos um objetivo, 'tudo depende de tudo'. Fomos todos para a Praça!
Deparamos com um deserto em plena atividade. Solidão total, fazendo o Centro da Cidade ter jus ao título de "Cidade Dormitório". Sem comércio, sem transeuntes, sem movimentos... A única luz vinha de uma barraquinha de sanduíches, ou dos postes no meio da praça. Decepcionante, e com evidente frustração todos queriam voltar sem fazer nada. Segundo o performer curitibano Fernando Ribeiro os elementos básicos da performance são o corpo, a ação, o público, o tempo e o espaço.
Tínhamos quase tudo, menos o público. E mesmo o nosso tempo estava ficando escasso. Depois de um impasse rápido decidimos montar a mesa no ponto de ônibus, no asfalto, E o público apareceu, como em um passe de mágica. É como se a terceira cajadada de Molière trouxesse a tona o público. Não eram muitos, mas já dava para iniciar o trabalho. Comecei a montar os pratos... A performance consistia em a atriz Rafaela sentar à mesa com dois pratos servidos esperando que alguém se juntasse a ela para uma refeição e um bate papo. O cardápio era tentador, eu mesmo realizei o menu composto de um fricasse de frango com batatas sauté, arroz e salada de cenoura com aspargos em uma das refeições e outra feita com arroz e um rosti de palmito com bacalhau desfiado, salada colorida e purê de batatas com cream cheese. O aroma invadiu o ponto de ônibus e logo tivemos uma voluntária... Estava no horário de saída de uma escola estadual (Vasco Coutinho) e uma das alunas se propôs em fazer companhia a atriz. Foi satisfatório ver as duas em uma conversa como se o mundo delas fosse aquele, como se o que estava acontecendo ao redor não pudesse afetar em nada o diálogo, nem mesmo os coletivos parando e abrindo as portas, pessoas passando ao lado e comentando. O público foi dos que esperavam o seu ônibus aos que passavam dentro dos carros na pista. Quando as colegas de sala da nossa voluntária saíram, passaram por ela zombando por ter saído mais cedo e ainda estar por ali e ela respondeu que elas estavam atrapalhando a conversa.
A equipe de apoio foi extremamente necessária, porém percebemos que algumas ações e atribuições devem ser definidas previamente, para não haver conflitos e falhas. Enquanto acontecia o diálogo com a primeira voluntária do público, comecei a montar o segundo prato, e para minha frustração, houveram alguns problemas... A turma é bem íntima e se concentra no momento da ação, mas ainda há dispersões nos casos de pausa. Os pratos estavam incompletos, o primeiro planejamento teve que ser modificado, pois a equipe não resistiu ao aroma da refeição e desfez o quantitativo da montagem... Talvez a modificação dos pratos não alterassem na intenção da proposta, mas interferiria na sensação do paladar e na expressão do "sentimento gustativo".
Sentou então a segunda voluntária do público, que elogiou o trabalho e disse que deveria acontecer "coisas assim" mais vezes. Notei que ela se sentiu atriz ao se sentar com a performer Rafaela, fazendo pose, usando gestos coordenados e um diálogo mais cênico do que natural, e isso reflete uma real necessidade de mais eventos culturais acontecendo. Ao final ela, "Monia", fez um breve depoimento sobre as sensações que ela imprimiu da performance. Registrar o depoimento de participantes ou até mesmo de ouvintes ou espectadores nos remete ao resultado que queremos ou tivemos. Mas o registro da fala sobre o sentimento não exprime o sentimento em si. Acredito que durante o processo, a "Monia" registrou muito mais sensações do que ela exprimiu em seu relato e apenas se fosse feito um registro com uma câmera fixa alguma coisa poderia ser capturada. Mas qual a função da performance senão o ato em si, sem necessariamente ter importância esse ato. Sentar à mesa se torna tão importante quanto olhar de longe. Porque fica a reflexão sobre a performer que está no lugar de esperar alguém, que ela não conhece e que provavelmente vai lhe trazer algum novo conhecimento, informação ou apenas um simples diálogo. Assim como em "Esperando Godot", onde pessoas, provavelmente insanas, esperam alguém em algum lugar, sem saber necessariamente o motivo.
Desta vez o jantar foi o gatilho de convite, mas muitos outros artifícios podem ser usados para uma aproximação de seres desconhecidos que passam a ter reflexões em comum sobre algo que elas talvez nem supunham conhecer. Esperamos Godot's, José's, João's, Maria's, esperamos contato. Por afeição ou por estranhamento, cada um se aproxima por um motivo, convidado ou não. Um rapaz que estava no ponto e filmou uma parte da ação pelo celular mostrou interesse em se sentar, mas quando convidado disse que teria vergonha. Outra senhora disse que era para deixar para os mais jovens. Muitos jogavam o convite de um para o outro, mas ficava perceptível que todos tinham interesse.
Exaltando Anton Tchekhov na expressão em que diz que há dois tipos de arte, as que gosto e as que não gosto, digo que este trabalho me foi prazeroso desde sua concepção. Escolhi o cardápio e o "empratamento". Realizar um trabalho que vai instigar o público a participar ativamente da obra. O público tem que se dispor a cooperar, e estar propenso ao prazer ou ao desagrado. Não ter a certeza da aceitação perante o estranhamento, o que deveria afastar está na posição de aproximar. Perceber o medo ou a timidez perante uma ação em que o público se transporta para o centro das atenções, pois a atitude é dele, ele tem que chegar e participar de uma atividade que pode ser cotidiana mas em um local totalmente avesso à condição de natural. Sentar-se à uma mesa para um jantar à La Carte num ponto de ônibus pode provocar desejo de experimentação em alguns, ou medo de participação em outros. Gostaria de realizar novamente este trabalho em locais distintos, com públicos diversos e registrar não só a participação daqueles que escolhem se aproximar e participar, mas também daqueles que se mantém distantes. Entender os por quês, os para que e os prazeres e desprazeres de todos envolvidos, público e artistas (performances, equipe de apoio e voluntários)
Sinto uma necessidade latente de uma maior organização antes de promovermos outra ação. Uma distribuição de tarefas com antecedência e um maior empenho de todos na participação. Lembrar que quando há a necessidade de uma equipe de apoio, esta é tão importante quanto o artista performe que estará atuando. Todos somos ramificações do trabalho. Tiro por exemplo a ação da Ana Paula que teve que negociar com uma moradora de rua que havia se apossado indevidamente das sandálias da Rafaela enquanto todos estavam distraídos.
(EM CONSTRUÇÃO)
Sentou então a segunda voluntária do público, que elogiou o trabalho e disse que deveria acontecer "coisas assim" mais vezes. Notei que ela se sentiu atriz ao se sentar com a performer Rafaela, fazendo pose, usando gestos coordenados e um diálogo mais cênico do que natural, e isso reflete uma real necessidade de mais eventos culturais acontecendo. Ao final ela, "Monia", fez um breve depoimento sobre as sensações que ela imprimiu da performance. Registrar o depoimento de participantes ou até mesmo de ouvintes ou espectadores nos remete ao resultado que queremos ou tivemos. Mas o registro da fala sobre o sentimento não exprime o sentimento em si. Acredito que durante o processo, a "Monia" registrou muito mais sensações do que ela exprimiu em seu relato e apenas se fosse feito um registro com uma câmera fixa alguma coisa poderia ser capturada. Mas qual a função da performance senão o ato em si, sem necessariamente ter importância esse ato. Sentar à mesa se torna tão importante quanto olhar de longe. Porque fica a reflexão sobre a performer que está no lugar de esperar alguém, que ela não conhece e que provavelmente vai lhe trazer algum novo conhecimento, informação ou apenas um simples diálogo. Assim como em "Esperando Godot", onde pessoas, provavelmente insanas, esperam alguém em algum lugar, sem saber necessariamente o motivo.
Desta vez o jantar foi o gatilho de convite, mas muitos outros artifícios podem ser usados para uma aproximação de seres desconhecidos que passam a ter reflexões em comum sobre algo que elas talvez nem supunham conhecer. Esperamos Godot's, José's, João's, Maria's, esperamos contato. Por afeição ou por estranhamento, cada um se aproxima por um motivo, convidado ou não. Um rapaz que estava no ponto e filmou uma parte da ação pelo celular mostrou interesse em se sentar, mas quando convidado disse que teria vergonha. Outra senhora disse que era para deixar para os mais jovens. Muitos jogavam o convite de um para o outro, mas ficava perceptível que todos tinham interesse.
Exaltando Anton Tchekhov na expressão em que diz que há dois tipos de arte, as que gosto e as que não gosto, digo que este trabalho me foi prazeroso desde sua concepção. Escolhi o cardápio e o "empratamento". Realizar um trabalho que vai instigar o público a participar ativamente da obra. O público tem que se dispor a cooperar, e estar propenso ao prazer ou ao desagrado. Não ter a certeza da aceitação perante o estranhamento, o que deveria afastar está na posição de aproximar. Perceber o medo ou a timidez perante uma ação em que o público se transporta para o centro das atenções, pois a atitude é dele, ele tem que chegar e participar de uma atividade que pode ser cotidiana mas em um local totalmente avesso à condição de natural. Sentar-se à uma mesa para um jantar à La Carte num ponto de ônibus pode provocar desejo de experimentação em alguns, ou medo de participação em outros. Gostaria de realizar novamente este trabalho em locais distintos, com públicos diversos e registrar não só a participação daqueles que escolhem se aproximar e participar, mas também daqueles que se mantém distantes. Entender os por quês, os para que e os prazeres e desprazeres de todos envolvidos, público e artistas (performances, equipe de apoio e voluntários)
Sinto uma necessidade latente de uma maior organização antes de promovermos outra ação. Uma distribuição de tarefas com antecedência e um maior empenho de todos na participação. Lembrar que quando há a necessidade de uma equipe de apoio, esta é tão importante quanto o artista performe que estará atuando. Todos somos ramificações do trabalho. Tiro por exemplo a ação da Ana Paula que teve que negociar com uma moradora de rua que havia se apossado indevidamente das sandálias da Rafaela enquanto todos estavam distraídos.
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