sábado, 3 de outubro de 2015

FRAGMENTOS DE "O PESADELO DO TERCEIRO MILÊNIO"

Hoje sonhei com meus pais... Eles estavam vestidos de branco em um círculo com outras pessoas vestidas de branco. Eu era apenas um bebê no colo da minha mãe, e aquele homem eu acho que era meu pai. Tenho poucas lembranças deles... Lembro o dia em que sacrificávamos um cordeiro, mas eu não via os seus rostos. Sempre que sonho com eles estão de máscaras... Eu só me lembro das máscaras. Eram como animais. A última vez que eu o vi, ele tentou me violentar, mais uma vez. Cortei o braço dele com meu punhal. Ele saiu de cima de mim e disse que ia me vender como prostituta para o primeiro comerciante que passasse. Prefiro ser prostituta de um estranho do que servir aos agrados daquele porco. Por isso coloquei fogo na palha enquanto ele dormia... Tinha medo dele me colocar no caldeirão enquanto eu dormia. Minha mãe ficou fraca, sofrendo de uma febre que não tinha fim... Não foi por piedade, eu queria ver como é a vida saindo do corpo de uma pessoa. Todos os dias os homens da vila vinha em minha casa, era sempre um grupo diferente e eu me deitei com todos os homens da vila. Era a única forma de ter comida no fogo. Pendurei-a pelas pernas e cortei seus pulsos. Deixei o sangue escorrer e a vida sair de seu corpo junto com o sangue enquanto dois jovens descarregavam a tensão do trabalho em mim... Concentrei-me em ver minha mãe morrendo, mas tinha vontade de matar os dois rapazes. Eles falavam que aquele era o verdadeiro fim de uma prostituta... Chamaram minha mãe de prostituta. Apesar de nossa vida, foi ela que me ensinou muito do que sei e ninguém tem o direito de chama-la de prostituta. Bebi o sangue dos dois. Enquanto a prostituta da minha mãe morria eu matava. Senti-me como um animal... Que estava saciando sua fome. Vivi no mato comendo raízes e folhas. Aprendi com os animais selvagens a andar, voar e me rastejar. Por isso estou aqui... Estou aqui para dividir meu poder e multiplica-lo. Eu entrego meu espírito à chama e recebo dela a imortalidade.
A espera me paralisa. Estou sedenta e não posso mais controlar a besta que há dentro de mim. Sinto cheiro de vida vindo em minha direção e desejo toma-la para mim. Sou pior a cada dia, meu tempo não tem fim. O medo não está com minha vítima. Sinto que ele se parece comigo, que seu passado, apesar de curto em relação a minha idade, foi tão duro quanto o meu. Posso ser a destruição de sua vida miserável, mas serei o marco de sua história de eternidade. Não matarei desta vez, o farei senhor das sombras. Com o beijo da morte trarei para meus braços meu fiel amante. Seremos carne e sangue. O que quero vem a meu encontro, caminha pela escuridão da noite a procura da estase surreal que apenas eu posso dar. Sua gratidão pelo presente que darei será a servidão e sua recompensa será a eternidade aos meus pés. De seu sangue sinto o cheiro do ópio desses dias que aterroriza sua mente. Vejo que minha vítima sofreu as desgraças da vida, passou pela tortura do mundo e continua puro de alma. Isso alimenta cada vez mais a minha fome. Ele me provoca a trazê-lo para o mundo da escuridão eterna. Está com medo e mesmo assim tem coragem de entrar nos becos a procura de satisfação para a carne. Serei o seu prazer hoje, enquanto ele me alimenta, inundarei sua mente com os mais belos devaneios. Devorarei sua alma e o tornarei meu eterno servidor. Meu escravo.

Eu morava com meu pai em um sítio. Minha mãe morreu quando eu tinha quatro anos. Nunca tivemos muito contato com o pessoal da cidade e na escola eu era considerado o estranho... Nunca fiz amizades, não tinha namoradas, mas sempre me apaixonei pelas meninas mais bonitas. Nunca teria uma chance com elas. O caseiro tinha uma filha. Ele vivia doente e ela quase nunca estava em casa, mas quando aparecia, meu mundo se transformava. Ela me fazia sentir poderoso. Era como se eu entrasse em transe durante o tempo que ficava com ela. No dia que ele descobriu... O pai dela... Ele correu atrás de mim com uma espingarda na mão... Queria me matar. Meu pai o matou primeiro... O que é a justiça, o que é a vida senão um grande jogo onde nós ganhamos e perdemos e nem sempre sabemos quem dá as cartas... Minha mãe morta, meu pai preso. Nunca mais vi a filha do caseiro e o grande amor da minha vida me deixou... LÍDIA!!! EU TE AMO!!! 
Então vá... Quer sentir a queda? A pressão do ar? Seu corpo se contorcendo com a velocidade da decida?... Você vai sentir seus ossos se partindo ao entrarem em contato com o chão, quebrando-se... Todos. A dor pode ser insuportável e levar à morte, mas, por outro lado, pode apenas te fazer agonizar... Um suicida não tem o perdão dos céus. Imagine a dor de todos os seus ossos quebrados e você, vivo... Uma dor insuportável... Uma eternidade de tempo passando a cada segundo de sua vida, sentindo e vendo a agonia dos que o cercam...

O desespero assim como o medo adocicam a alma... Procuro companhia, mas irei só, se preciso for. Me fortifiquei e me batizei com seu sangue, não por ser sagrado ou profano, mas por trazer fragmentos de sua essência, mas almejo ter o mundo aos meus pés, pois não quero carniceiros em meu encalço. A ganância não me cega, quero dividi-lo com você, pois me liga àqueles que a possuem... Você é eterna como a piedade que sempre está presente no coração humano e enquanto houver faíscas de um ser vivente, lá estaremos. Me apego sem me iludir, pois é a afeição por esses pecados que me fez presente na história. Seu sorriso esboçado me ilumina para a grande obra prima. Surpreendentes façanhas inúteis, que ameaçam sem coagir, provocam sem atacar e matam sem levantar o punhal. Sou como o abutre, não caço e nem aniquilo, espero paciente. Esse é o fim do homem, mas não da humanidade que se renova a cada era para nossa supremacia.
Sou corpo sem carne e espírito sem alma. Sou o condenado e o carrasco, o chicote e o perdão. Me alimento da dor e do sofrimento que inflijo e do pecado que proporciono. Sabedoria não é andar atrás de meu desejo, mas ficar nas sombras esperando que ele passe. Um dia tudo se acaba e como um belo ciclo, se renova e reinicia. Lá eu estarei, aguardando um novo começo. Pronta para, como a fênix, sair em meio as cinzas em busca de um novo ninho.

Morte Súbita!

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