domingo, 4 de outubro de 2015

ATIVIDADES PERFORMÁTICAS - TIRÉSIAS - HAPPENING

Turma AC4N

Título: "Tirésias"

Tirésias, profeta grego do oráculo de Apolo na Cidade de Delphos... Cego. Famoso pelos escritos de Sófocles nos livros que contam as histórias de Édipo e na Odisseia de Homero. Em Édipo, Tirésias é o cego que tudo vê contrapondo a Édipo que vê mas permanece cego aos fatos que o cercam.
O Happening é uma ação, inicialmente das artes visuais, onde o público participa da obra. Atores e plateia se misturam no trabalham e todos acabam participando de certa forma da construção do espetáculo ou do experimento. 
Para nossa ação tivemos como convidados os alunos de uma turma do curso de fotografia que se tornaram parceiros artísticos na performance. Preparamos o estúdio de filmagens com objetos e motivadores sensoriais. Tinham "coisas" espalhadas pelo chão (tecido, barbante, pipoca...), obstáculos distribuídos aleatoriamente pela sala e bastante gente em um ambiente totalmente escuro. Andar sem saber onde ou em que está pisando é uma sensação não frequente a quem tem visão perfeita. Ocorriam um misto de sensações e sentimentos que não se exprimiam em palavras, mas que causaram uma grande necessidade de se liberarem... Conforme andávamos nos trombávamos e trombávamos nos obstáculos. Cadeiras, cubos, paredes... Pessoas. E trombar em pessoas era uma das sensações mais estranhas. Buscamos descobrir quem estava em nossa frente nos tocando ou sendo tocados por nós. Sentimos a necessidade de ver de alguma maneira quem estava ali, conhecido ou não.
Quando encontramos alguém conhecido no meio da escuridão, assumimos certas liberdades que não aconteciam no contato com os "estranhos", até que todos começaram a se tornar um misto de amigos que estavam ligados pela mesma dificuldade. Nos tocávamos, nos percebíamos e interagíamos uns com os outros. Cada um no seu limite. Toques no rosto para reconhecimento, nos cabelos para saber se podíamos descobrir quem era. O som da voz por vezes era reconfortante, mas em momentos vinham acompanhados de uma terceira pessoa que estava perto, ou de algum objeto que tropeçávamos.
Andar no escuro, sem ter prática era uma tarefa difícil. Pisar em tecidos espalhados, pessoas deitadas no chão, cadeiras espalhadas, fios de barbante atravessados pela sala, perfume se espalhando pelo ar e sons... gritos... músicas... Cada um liberava de alguma forma o pequeno estresse que estava passando por não enxergar. Em certo momento um grupo deitou no chão e começou a se arrastar. Foi uma sensação instigante, eu sabia que assim não tropeçaria mais, porém, quem estava em pé andando poderia pisar em mim. Então tentei fazer meu trajeto apalpando os pés de quem estava perto para que eles soubessem que alguém estava passando por baixo deles.
Voltei a andar de pé, e agora eu comecei a tocar nos braços de todos que passavam por mim. As reações eram muito diferente. Alguns retribuíam ao toque, outros perguntavam quem eu era. Um tanto se afastava, pelo susto ao toque, ou pelo medo de estar no escuro com pessoas que não tinham intimidade. Um grupo que estava sentado começou a conversar e me estimulou a aproximar mais deles. Quando toquei no braço de uma das meninas tentei passar sua mão pelo meu rosto a reação dela foi de medo... Ela começou a falar que não era para eu mordê-la, e mesmo eu falando que não ia fazer isso ela puxou a mão e não permitiu o toque.
Começamos todos a cantar, assobiar, rolar no chão, massagear uns aos outros, conversar... Cada um tentou encontrou uma alternativa que diminuísse o medo do escuro. Mas o tempo passava de maneira muito lenta e eu comecei a me sentir incomodado com o tempo dentro da sala. Minha visão começou a se acostumar e o escuro já não era mais um fardo. Eu já conseguia distinguir as pessoas, e perceber os objetos na sala. Sentei em uma das cadeiras e comecei a ficar aflito pelo tempo que não acabava. Queria terminar logo, mas os outros estavam empolgados, cantando, rindo, interagindo. Se eu pudesse apressaria o relógio. E depois do que me pareceu uma grande noite os celulares começaram a despertar, concluindo nossa performance... A felicidade pelo trabalho concluído contagiou a todos, e chegou a hora de falarmos o que sentimos. Muitas sensações, emoções... Todas diferentes. Medos superados, amizades iniciadas, desejo de realizar novamente a performance. Cada um tinha um motivo para permanecer na sala, alguns queriam quietude e silencio no escuro... outros queriam barulho e agitação para suprir a falta da visão, outros queriam o toque amigo para simular uma segurança aparente que em momento algum foi ameaçada. Mas em unânime todos declararam ter emoções diferentes do seu cotidiano.


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