Em 2004 fui lecionar artes na UMEF "Vila Olímpica", em Soteco, Vila Velha. Passei no concurso da Prefeitura e me tornava professor efetivo, após tanto tempo como "DT". Iniciando meu processo de loucura contínuo-provisória, fui morar no bairro, bem ao lado da escola. Certo dia, assistindo a um filme ("Um Crime de Paixão" - Um ex-padre foragido e uma trupe de atores itinerantes se unem para desvendar um sinistro crime na Inglaterra da Idade Média, onde um garoto foi brutalmente assassinado. Ao ajudar a solucionar o mistério, o religioso encontrará a redenção e o perdão que tanto procura. - de 2002) e lendo Drácula de Bram Storker... porque naquela época não existia o facebook para perverter minha mente, na verdade em minha casa eu não tinha nem computador e internet só na casa dos meus pais... resolvi começar minha primeira dramaturgia. Queria escrever o espetáculo "Drácula". Comecei então a pesquisar sobre o tema. Li livros sobre vampiros, conheci um vampirólogo, aprendi a jogar RPG. Estudei os clãs cainitas, conheci a literatura de Anne Rice, Edgar Allan Poe, Alexandre Dumas, John Polidori, Lord Byron, Quiller-Couch, Alexei Tolstoi e alguns outros que descreviam contos e histórias fabulosas sobre vampiros. O filme em si não era sobre vampiro, nem sobre Drácula, mas a mistura da leitura me fez querer escrever algo que saísse da ficção e tivesse uma trama justificável no mundo natural. Escreveria um espetáculo sobre um ser mitológico sem mitologia. O roteiro seria sobre um clérigo esquizofrênico psicopata que mataria e culparia um monstro pelos crimes. Mas o lúdico e a literatura me corromperam. Resolvi dar uma justificativa para Drácula. Um ser humano normal que viveu e morreu, mas que magicamente ressuscita após conhecer descendentes dos clãs cainitas (em outro momento conto essa parte da história... que também daria um excelente espetáculo se eu concluísse essa linha... na verdade já tenho escrito [Lydia ou Elisabeta, grande amor do Conde Vlad Dracul era na verdade uma feiticeira milenar iniciada no clã tremere, que resolve tomar o poder e dominar o mundo, mas se entrega ao amor], mas precisa de um grupo grande de atores e eu não estou preparado para esse tipo de montagem).
Então escrevi o primeiro manuscrito do projeto. Fiz uma oficina de carpintaria dramática, outra de direção cênica e outra de dramaturgia. Comecei minha busca por um bom roteiro... Pesquisei roteiros e escaletas para entender como funcionava o ápice e a conclusão de um texto. Distribui personagens, criei falas e características para cada um deles... Mas não saía da primeira página da peça. Resolvi então montar o espetáculo, mesmo sem tê-lo escrito. Fiz teste de elenco, esperando que a pressão me estimulasse a escrever. Já havia pensado em toda a história e já sabia a frase final... Então, em uma noite (de 2005 já) com papel e caneta na mão eu simplesmente me contei o que seria o primeiro rascunho do texto. Registrei tudo enquanto tomava uma garrafa de "MARTINI"... Aqui eu tenho Drácula, Lydia, As três esposas de Drácula, Um padre, Louis (namorado de Lydia), 3 homens lagartos, ou seja... 10 personagens... E ainda escrevi cenas que precisavam da magia do vídeo para serem realizadas... Doce tentativa.
Reduzi, não lembro bem porque, a peça para uma esquete de quatro atores (2006) e aglutinei as falas, mexi um pouco na história... Ensaiei, mas nunca apresentei, porque os efeitos especiais ainda estavam me fazendo acreditar que eu faria cinema no teatro. Voltei então para o modelo original e tentei outro teste de elenco (2008). Foi perfeito. Tinha a quantidade de elenco que eu precisava. Todos apaixonados pelo lúdico e pelo tema. mas mesmo depois de muitas leituras eu não conseguia ver meus personagens aparecendo... Acredito que o defeito estava mais em mim do que nos atores... Acho que as loucuras dos personagens que me inspiraram ainda estavam nas minhas memórias. Então desisti... em 2011 o espetáculo foi contemplado com Lei de incentivo cultural... e finalmente eu poderia fazer o que queria, o que havia sonhado... construir os palcos elevados, com roldanas e camas elásticas, cabos de aço... figurinos estilo Broadway. Mas dos 90 mil orçados, tive apenas 25 mil... valor que pagaria apenas o palco... Mesmo assim, fiz teste de elenco, comecei os ensaios, reformulei o texto... Mas, os atores, apesar de todo empenho que tinham, não mostravam a loucura que eu queria. Tentei, troquei o elenco, reduzi os personagens... Não adiantava...
Então chegou 2015... o dinheiro do financiamento já havia acabado e eu acumulado tecidos, figurinos e recibos... Então Drácula surgiu dentro de mim... Um insano, maníaco depressivo que conta sobre crimes que não sabemos ao certo se foram cometidos ou se são apenas desejos ocultos... o texto é o mesmo, apenas adaptado... e parece que sempre havia sido escrito para um ator. As falas se encaixavam, a história possuía uma sequencia lógica... Dizer que é um texto claro seria mentira, pois é sobre um esquizofrênico, que muda de ideia, mas sempre volta ao seu roteiro principal... Os traumas e os motivos pelos quais comete os assassinatos, a briga com a igreja, a ideia do anticristo... A determinação de ser um novo deus.
Assim surgiu O Pesadelo, uma ideia vampiresca sobre um louco que referencia a Drácula pelo seu sanguinarismo, mas semelhante ao lunático Renfield que sonha em servir ao mestre. No caso ele quer ser superior ao próprio mestre (Deus). Com um texto de mais de 10 laudas, OPTM, é uma narrativa solitária, onde o personagem conta para si mesmo fatos de sua infância, adolescência e juventude que ele justifica ter influenciado suas atitudes assassinas, que são santificadas, segundo ele, pois foram feitas para libertação de almas pecadoras, a ponto de ele acreditar que salvou tantas almas que é possível ele se tornar o próprio Deus. Ele se justifica baseado em partes da Bíblia e até cria a ideia de que Cristo foi santificado por misticismo e que pelo mesmo misticismo ele também pode ser.
O cenário engloba a mente do personagem em um ambiente todo branco, com objetos cobertos por tecidos finos que os deixam parcialmente aparentes, com pouca iluminação, muita sombra e uma cortina de organza que fica entre a plateia e o palco, deixando público virtualmente de fora da mente do personagem. Durante o espetáculo ele escreve seus testamentos em um novo livro, construindo o que ele diz ser uma nova Lei mística para a redenção das almas. Ele provoca autoflagelação, cortando os pulsos referenciando a crucificação, comparando-se a Cristo enquanto se confirma como filho de Deus e usa seu sangue para um novo ritual de comunhão. O texto não encontra seu fim, pois se torna cíclico quando ele termina com a previsão de seu apocalipse e loucamente o reinicia, como se, para ele, aquela história fosse recontada todos os dias...
"O Pesadelo do Terceiro Milênio". O texto de Anderson Lima é um ensaio sobre a esquizofrenia com nuances de um terror vampiresco. Um ser "no sense" que em suas alucinações acredita que Deus o escolheu para ficar em seu lugar... Psicopata assassino e paranóico passeia por seus delírios regados de sangue e morte enquanto narra sua infância problemática e escreve um novo livro de Leis espirituais que ele chama de nova Bíblia baseada em suas teorias de certo e errado. As sombras que o perseguem e as vozes que ecoam em sua mente o direcionam em sua jornada de sublimação divina. O autor se apropria de trechos Santos e profanos em alguns momentos o que tornam a experiência da atuação mais tensa e marcante. A crença do personagem de que tudo que ele faz está autorizado por um Deus que ele "ilusiona" como material em feitiços e orações lunáticas criadas para a invocação de um "big bang" em seu interior, o faz aterrorizar enquanto clama pela atenção do público.
Serviço:
texto, atuação e direção de Anderson Lima
data: 23 e 24 de Janeiro de 2016
horário: 20 horas
Local: Rua Sete de Setembro, 529 - Centro de Artes Ulysses Cavaliéri
Produção: "JC Produções"
contato: José Celso Cavaliéri - 999 087 044
texto, atuação e direção de Anderson Lima
data: 23 e 24 de Janeiro de 2016
horário: 20 horas
Local: Rua Sete de Setembro, 529 - Centro de Artes Ulysses Cavaliéri
Produção: "JC Produções"
contato: José Celso Cavaliéri - 999 087 044