Entre meados dos anos 1980 e meados dos anos 2000 a Boate
Eros foi ponto de encontro gay muito frequentado na cidade de Vitória, capital
capixaba. Os shows, as peças de teatro, as amizades, os romances ficaram
registrados nas lembranças e memórias dos frequentadores. Essa pesquisa se
justifica, pois há uma fragilidade muito grande nos registros das atividades
locais, já que pouco se encontra de material de pesquisa sobre o histórico da
boate.
Cabe destacar, porém, que nos últimos cinco anos, devido
ao falecimento de alguns desses nomes, algumas pesquisas começaram a tomar
corpo. Um filme de resgate feito de recortes das fitas VHS de shows da boate
deu evidência a uma das transformistas, Dayse Lilica, considerada por alguns a melhor transformista da casa e que tinha como público travestis que “faziam
vida” na orla da praia de Camburi. Outros nomes também são citados no vídeo,
nomes de transformistas que se tornaram famosas ativistas das causas LGBT
nacional. Mas o vídeo não pode ser caracterizado como um trabalho acadêmico, já
que é apenas a reprodução na integra de cada show, sem considerações ou
discussões sobre o assunto.
Também no que tange ao surgimento do movimentos LGBT no
estado do Espírito Santo, há uma literatura escassa e o acesso aos registros existentes
– que em sua maioria são artísticos e
não acadêmicos - é restrito. Durante a revisão de literatura tivemos acesso ao
livro “Desaquendando a História Drag no mundo, no Brasil e no Espírito Santo” (BRAGANÇA,
2018). No entanto, a bibliografia lançada no estado sobre o assunto ainda é
reduzida.
Dessa forma, considero que essa pesquisa pode auxiliar na
identificação e no reconhecimento tanto das diversas identidades de gênero que
hoje fazem parte de nosso cotidiano, quanto do “ativismo teatral” ao longo da
década de 1980, período que marca o fim do regime militar no Brasil e no qual a
repressão artística e sexual afetava de maneira direta aos grupos gays. Essa
liberdade que se tinha dentro da boate não podia ser desfrutada no meio da rua,
mas muitos artistas enfrentavam a sociedade e mantinham um personagem em tempo
integral.
As performances teatrais ocorridas na Boate Eros ao longo
do recorte da pesquisa foram marcadas por um engajamento social e político, tensionando
estereótipos de gênero, abordando a temática da diversidade sexual e
fortalecendo as identidades gays do público frequentador e dos próprios
artistas.
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