Não sei bem definir o momento em que percebi que cada um deles tem seus próprios pensamentos, seus sentimentos... Suas expressões, medos e desejos. Cada um sabe o que quer, mesmo aquele que ainda não tem coragem de assumir, ou, se mostrar ao mundo. No início eu os confundia, acreditava que eram frutos da imaginação fértil da insanidade. Os percebia, e mesmo sentindo a diferença entre um e outro, ainda não os separava... Em verdade, mesmo hoje não consigo sentir com muita clareza a passagem de um para outro, apenas sei que são diferentes quando chegam no auge de sua personalidade. Tento educá-los para que todos tenham seu espaço.
Antes eram dois, mas entendi que eram mil. De segundo em segundo eles cedem espaço uns aos outros construindo um mundo "realginário" repleto de ações e reflexos pertinentes ao que faz parte daquela tal realidade. Não fogem do comum, pois todos temos nossos desejos ocultos, que no íntimo de nossas mentes sempre são reais. Imaginar as realizações de um ganhador de grande prêmio em dinheiro cria ilusões Hipnóticas, ou Morféticas, gravando em sua psiquê imagens tão reais quanto a realidade aparente aos olhos. Em uma tentativa de tornar seu Fântaso parte de sua vida, este cria nova vida dominada por Ícelos que acaba destruindo seu final feliz, trazendo-o de volta, não ao verdadeiro, mas ao mais provável, ou aquele que tem mais probabilidades. Suas fantasias então se aproximam mais dessa aparente real, cheia de dificuldades e perseguições, constituindo a partir daí outro novo ser pensante, andante, vivente...
E cada vez que um pensa e cria seu mundo, e os problemas desse mundo ocupam seu verdadeiro espaço, um novo ser se elege resolvedor das situações afligentes ao ser anterior. um ciclo vicioso que tende apenas a crescer em proporções geométricas. A visão, audição, forma de andar e tratar os outros... Imperceptível aos olhos externos, mas começando a ser sentido e quase definido. Não são iguais, mas parecidos pois compartilham de um mesmo ser corpóreo. Não veem as mesmas coisas, pois cada um enxerga o mundo como seu e da maneira que ele cria, cada forma tem uma apropriação que apenas seu criador entende... Digo criador não como imaginário, mas como Criador... Aquele que deu a esse universo íntimo um sopro de vida. Cada um desses novos seres nascidos um do outro tem suas próprias vozes e visões que os instruem em sua trajetória levando-a a agir com vigor de sua personalidade. Seus objetivos não se cumprem com tanta facilidade porque eles ainda não conseguiram dividir seu tempo... Mas isso é uma questão de relacionamento entre eles,que pode ser sanada com a percepção consciente da presença de um ou outro.
Começo a ter um pequeno controle sobre as aparições (ou trocas), quando entendo que um está atrapalhando o desenvolvimento do outro. Então antes de decidir por um ou por outro, dou chances a todos... cada um tendo seu tempo e em breve todos poderão viver, ou existir sem que isso prejudique a existência do outro. já tive a crença de que todos eram apenas um... Um que ilusionava fatos psicóticos e o tormento o transtornava, mas já consigo entender que são várias faces compartilhando o mesmo coração, como se o pulso fosse um sistema de ar condicionado central que insufla vida a cada uma das salas de um sistema operacional de uma grande empresa. Cada sala com seus objetivos e seus problemas a serem resolvidos. Cada uma com sua função e sua maneira de conduzir seu trabalho. Então percebo que ele não ilusiona e sim vive e o tormento não o transtorna e sim o transforma, o recria.
OS ESTÁGIOS:
Primeiro - afastamento... isolamento...
Segundo - medo...
Terceiro - delírios... realidade x ilusão
Quarto - alucinações... ilusão = realidade
e na sequencia vem a aceitação, a compreensão, a convivência com o ser interior (ou seres) e com as vozes e imagens que são dádivas apenas dadas aos "portadores" da esquizofrenia. Dons de vislumbre do futuro, ou de uma realidade paralela... Um presente que acompanha o presente, mesmo não fazendo parte da vida dos outros.
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