Estudar teatro é uma tarefa árdua, que muitos querem, mas poucos são capazes. Arte e cultura é para todos, assistirem, participarem, vislumbrarem... Mas será que até quem não é artista pode fazer "Arte"? Esse "dom" foi distribuído a todos sem distinção? Quando Paolo Mantegaza diz que "A escola pode aperfeiçoar o artista; criá-lo, nunca...", ele não está apenas falando de produções, mas do próprio produtor, do artista, que já nasce assim. Antes mesmo de se definir um engenheiro, médico, técnico em algo, esse ser já é artista. E posso dizer que aquele que tem a alma para a arte será um grande artista, mas poderá ser o melhor em qualquer outra profissão que escolher a se dedicar.
Sua produção não é apenas a expressão de seu sentimento, é uma ansiosa vontade de criar para o mundo "normal" uma crítica pensante, uma distração pulsante ou apenas uma simples beleza que despertará o sentimento de outros além de si. Andy Warhol disse que "o artista é alguém que produz coisas que as pessoas não tem necessidade, mas ele por alguma razão, pensa que seria uma boa ideia dá-las a elas". Mas acredito que todos tem necessidade de ouvir, ver, sentir a beleza da arte. Em um mundo onde a sobrevivência é a meta do homem, momentos de apreciação artística podem alimentar a alma e aliviar a tensão dos dias. As pessoas tem sim, necessidade de um produto cultural ou artístico. Prova disso foi a grande procura pelas inscrições na oficina de teatro de Rua oferecido pela Secretaria de Cultura de Vila Velha. Um projeto de cursos em artes cênicas que eu criei desde 2004 e que voltou as atividades a partir da iniciativa do Secretário de Cultura Andinho Almeida. Foram quase 70 inscrições em três dias de divulgação apenas no site da prefeitura.
A oficina consiste em quatro aulas de quatro horas cada, onde serão desenvolvidos recursos necessários para criação de uma apresentação em espaço aberto, ou alternativo. Não pretendo aqui profissionalizar atores de teatro de rua, e sim aguçar o sonho e o desejo daqueles que pretendem se envolver com as artes.
A primeira aula foi nada mais que impressionante. Os alunos inscritos estavam com sede de conhecimento. Foram as quatro horas mais rápidas que muitos tiveram. Passou o tempo e o aprendizado foi compensador. Começamos com uma pequena explanação dos conteúdos que seriam desenvolvidos durante as aulas. A história do teatro sempre foi um tema que me envolve. Levantar as questões dos motivos pelos quais os homens começaram a representar é instigador e construir esse pensamento junto a pesquisadores iniciantes nas artes cênicas nos auxilia a construir novas ideias. Descrevi de maneira rápida as diferentes escolas dramáticas que listei desde as competições gregas das tragédias e das comédias, do teatro romano com suas construções suntuosas e seu declínio devido as condições políticas e econômicas desfavoráveis, dando ascensão ao teatro cristão católico que se estendeu até o renascimento com o aparecimento prévio das trupes mambembes, do teatro elisabetano e da Commédia Dell'Art. Discutimos sobre o carnaval no Brasil que é um grande espetáculo de Rua.
Conversamos sobre o Teatro de cordel apresentados em ruas e praças do nordeste e do teatro de Amir Haddad: https://www.youtube.com/watch?v=BhojcpjIzsw . Toda conversa foi bem rápida, apenas para aguçar ainda mais a vontade de aprender sobre o tema. Não fizemos um estudo detalhado sobre a história do teatro, apenas tentei listar sua importância para a sociedade. E surge uma questão que está presente em minhas aulas e minhas pesquisas. Deve-se promover a cultura a partir dos recursos públicos? Retórica. Não acredito no desenvolvimento de uma sociedade sem conhecimento de sua cultura. Isso é apenas uma questão de educação? De sala de aula? De referências passadas em salas de aula? Desenvolver o ato cultural, o senso artístico crítico e criativo, alimentar a mente e a alma com conhecimento filosófico, cultural, teatral. Não consigo ver um trabalho artístico "desintencional", mesmo que essa intenção seja alegrar aos olhos, distrair, divertir, questionar, educar, construir conhecimentos, informar,... Ufa... Existem mais funções para o teatro que apenas teatro. Então começamos pela diversão. Imagens que agradem aos olhos. Isso se inicia pelo visual da obra, cenários, figurinos, adereços. Os figurinos que estão sendo desenvolvidos são uma releitura das obras criadas por Hélio Oiticica no final dos anos de 1960. Os "parangolés" ganham formato de vestimenta base do figurino dos atores de rua que começam a nascer na vontade de cada aluno do curso. Transformados em peças para o teatro de rua, pensamos em confeccionar camisas e adereços cobertos com tiras de tecidos que criarão movimento a partir dos gestos que os atores farão em suas representações.
Depois de desenvolvermos a ideia dos figurinos, começamos a pensar nas relações que o teatro de rua tem com a música e de como isso pode chamar a atenção para o trabalho. Sentimos uma enorme necessidade de fazer barulho, sons musicais para acompanhar nosso cortejo. Uma das sugestões foi a "Casaca", instrumento que acompanha as bandas de congo capixabas, feitas de madeira e bambu emitem sons variados de acordo com seu tamanho e seu material básico.
Também incluímos os agogôs, afoxés, chocalhos, pandeiros e tambores. Instrumentos de percussão que acompanham bem a ideia principal da música escolhida para nosso novo grupo. Uma marchinha, escrita originalmente por "Marcílio Dias" para o grupo teatral das oficinas e que foi adaptada para essa nova gestão administrativa. A marchinha, que nos transporta para apresentações de blocos de carnaval será intercalada por leituras de poemas e apresentações de esquetes que serão adaptadas para apresentações nas ruas.
O trabalho circense, como acrobacias e malabarismos também acompanha o que pensamos para uma apresentação dinâmica na ruas. Brincamos então com movimentos dos "swing's poi's", que consiste em um pesinho preso à uma corda com fitas amarradas que quando com movimentos certos criam imagens em movimento que chamam a atenção do público pela beleza da mistura de cores e dos desenhos elípticos e circulares que são criados.
Depois de todas essas discussões e debates, fomos para a prática. Saímos de nosso local de conforto e fomos para a Praça da Prainha. Para a grama debaixo da castanheira e começamos a jogar. Primeiro fizemos uma aquecimento corporal, com alongamento e caminhadas, ocupando espaços desenhados para simular presença de público. Os alongamentos foram simples, de pernas, braços, coluna... E os exercícios realizados foram utilizados para, que em grupos, eles criassem uma sequência coreográfica realizável pelo grupo. Para desacelerar fizemos um jogo de iniciativa, desinibição e trabalho em equipe, que consistiu em após formar um círculo, todos andavam de forma desordenada se aproximando do centro do espaço até que todos se misturassem. Deram então novamente as mãos, na mesma ordem que estavam na posição do círculo e sem soltá-las, deveriam desfazer o "nó" criado.
Para finalizar a aula fizemos um trabalho de aquecimento vocal e aprendemos a cantar a marchinha do grupo.
"Eu sou de Vila Velha onde se projeta... A Felicidade! Minha Terra entra em cena e contracena... com a realidade!
Nessa luta sou mocinho, sou vilão e sou palhaço. Sou rei, sou escravo, sou mau e sou bom...
AULA DADA NO DIA 25 DE NOVEMBRO DE 2015 NO PARQUE DA PRAINHA - VILA VELHA PELO ATOR, DIRETOR E PROFESSOR DE TEATRO ANDERSON LIMA.
http://www.vilavelha.es.gov.br/noticias/2015/12/oficina-de-teatro-de-rua-reune-criancas-e-jovens-7570
http://www.vilavelha.es.gov.br/noticias/2015/12/oficina-de-teatro-de-rua-reune-criancas-e-jovens-7570




Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça seu Comentário